sexta-feira, 22 de março de 2013

O carnaval de 1982 - O Dodge Dart: semana de carnaval (domingo)



O domingo de carnaval rolou na maior alegria. Carlinhos embriagado desde o momento que pisou na praça do Carmo; Martinha perdida pelas ladeiras e becos, Bebel se desvencilhando do inútil policiamento do motorista ébrio e por aí a festa caminhava sem maiores estripulias.
No final da tarde, Carlinhos se arrastava ao lado de Alexandre pela praça do Carmo. Seu companheiro, aclamado em 1980 como o rei do pina - não devido a seu sangue azul ou qualquer coisa semelhante, mas sim por ser considerado o maior bebedor de cerveja do dito bairro -  estava  sóbrio, apesar dos litros e mais litros consumidos da referida bebida. Os dois perambulavam sem destino; Carlinhos com a horrível peruca loura e com óculos escuros e Alexandre de posse de um charuto com um cheiro pior do que essência de gambar.
Foram caminhando, caminhando, bebendo, bebendo, e o charuto na mão de Alexandre e às vezes no bico, simulando umas tragadas;  os dois perceberam que todos que passavam ficavam de olho na dupla, principalmente no maldito charuto, e aí tiveram uma brilhante ideia:

- Carlinhos, vamos tirar uma onda com esses manés de Olinda ?
- que onda é essa véio, esse carnaval já é uma onda mesmo então tá bão assim; vamos encher a lata de cerveja !!!
- vamos tirar onda com esse charutão .....
- tu quer beber ele, tá doidão é parceiro ?
- ce tá maluco galego, só pensa em beber...né isso não ... vamos dizer que esse charutão deixa a pessoa doidona, sobe nas nuvens, vê estrela brilhando no quengo, assim como a maconha, e enrolar esse bando de trouxa ..
- nossaaa !! tu é doido cara .. já não basta a maluca da Martinha me fazer beber uma batida de quick do cantil que os malocas botaram a boca e ainda me fazer cheirar uma lóló que queima a PUT$# Q&¨% PAR*&% e agora vem você com essa maluquice...
- vamos lá, vamos lá, vamos lá galegooooo... 
- não não não....
- vamos vamos vamos ...
- kkkkkk , okkkkk, vamos lá tirar onda com esses debiloides malocas de rua ....

Os dois caminharam por um bom tempo soltando fumaça pelos quatro cantos da rua, simulando a loucura da marijuana colombiana até chegar na frente da casa que na época era a sede do bloco "Eu Acho é Pouco". Bem no meio da rua aumentaram o fumaceiro e começaram a simular danças tribais, rodopiando e falando embolado, em voz alta, da eficácia dos efeitos alucinógenos do maldito catinguento cubano.



Sede do "Acho é Pouco".
Aos poucos foi juntando gente e mais gente até que formou uma roda de bobo na rua com os nossos amigos no meio como astros tresloucados:

- PUT&%$ MER%$A companheiro, esse negócio é MUITO BÃO...tô nas nuvensssss (berrava Alexandre de um lado..)
- Me dá um pouquinho, me dá um pouquinho parceiro .... deixa eu ir no ceu, fumar uma lá, e voltar (Carlinhos berrava de outro lado....)
- Nossa tô vendo estrela Alexandreeeeee, isso é melhor do que loló com quickKKKKKK ...tô doidão ....
- pera ai Carlinhos, deixa eu dar uma tragada maior. ummmmmm...ahhhhhhhhhhh...isso é melhor do que namorar dentro do carro no aeroclube......
- passa para cá, vai, manda vê, num esquece de mim que eu quero é mais fumaçaaa..
- pera aí, pera ai, deixa eu ver o saçi-pererê e a mula-sem-cabeça que te dou o restinho.....uauauau...tô vendo, tÔ vendo... pega o restinho agora !!
- Ahhhhh, ummmmmm , se Martinha vê isso ... ela iria ficar doidona também ...tÔ vendo centopeia, caranguejos e lagartos.. tá tudo subindo pelas minhas pernas tÔ doidãooooo.....finalizou Carlinhos revirando os olhos..

Enquanto a conversa entrava num loop amalucado dois maloqueiros entraram na roda e sem saber da encenação cairam no conto:

- Oia pareia os dois taum fumando um bago de maconhaaaaaa...vamos nessa, vamos nessa..
- é mesmoooo, oia os olhos do gordinho, oia os olhos do gordinhoooo, tá vermelho que nem fogo em brasa ...
- esse cabra tá cheio do pó mano, olha também o galegão, os oios dele taum virando...ele tá possuidooo pelo demooooo...
- minha nossaaa, os dois estaum encapetados ....
- vamos filar o bago desses capetasss.....

Alexandre e Carlinhos percebendo os dois abestalhados na roda, iniciaram a etapa final do conto:  

- que é q vocês querem bestoides ???!!!
- ei gordinho dá p mim um pouquinho, vai gordinho..vai.., deixa eu provar esse bago !!!
- ei camarada, tu é moleque de rua ainda, se a polícia pegar vai ver o sol quadrado, xilindró, dá não, dá não...fica na tua.....(alexandre replicou...)
- ei calango do sertão tu não tá acostumado com isso, tu é de menor, fica longe dessa, xÔÔÔ...(Carlinhos ratificando Alexandre..)
- Vai, vai, vai, nóis quer curtir essa fumaça doidona...
- tá bommmm, pega ai cabra da peste, mas dá uma fungada de leve por que a coisa é pesada mesmo...
- deixa eu ver: ummmmmmmmmmmm.....arrrrrrrrrrrrrrrrr....... to ficando doido do cacete ..o charuto do gordinho é arretado; tá tudo rodannndooooooo.....vou cair no chãoooo....
- me dá, me dá, eu também queroooo. ummmmmmmmmmmm arrrrrrrrrr.....aiiiii rodou tudo, tô cheio de maconha, isso é melhor que cana cearense de cabeça....
- vaaaaaamos devolve o bago zé pilintra que isso né coisa para tua laia não !!! - Alexandre berrou..
- pelra um pôquinho goldinho, deixa meus oios filcar saindo faisca que nem o teuuu....
- obaaaaaa tÔ possuído pelo chifrudo...aiiiiiiiiiiii......meus oios taum virando que nem o do galegão......

Quando o segundo maloqueiro foi provar a inocente fumaça, foi interrompido bruscamente por  Alexandre que arrancou a força o charutão receoso que seu precioso objeto fosse furtado na confusão, arrastou Carlinhos do meio do aglomerado de vadios que crescia a cada minuto e partiu de volta para o ponto de apoio: o carro.
Voltaram trôpegos atravessando becos, ruelas e vielas, caminhando, conversando e soltando fumaça pelos quatro cantos de Olinda. No carro a noite continuou tranquila, entre cervejas, vodkas e fumaças do inofensivo charuto...
 
       

Alexandre, com Alice, ainda sóbrio antes da aventura do charuto.
 
 


























 

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