sexta-feira, 22 de março de 2013

O carnaval de 1982 - O Dodge Dart: a compra e a preparação.




Não sei exatamente o dia e nem tampouco que horas se deu o nascimento da incrível ideia de comprar um carro velho  para o carnaval, só sei que o iluminado descobridor do famoso Dodge Dart de procedência duvidosa foi nosso amigo Carlinhos.
O Dodge Dart foi um automóvel desenvolvido nos EUA pela divisão Dodge da Chrisler  entre 1960 e 1976, sendo que aqui no Brasil sua produção continuou até 1981 com versões que, na época, tinha o mais possante motor já fabricado no país, um V8 que chegava a uma velocidade máxima de 180 km; era considerado um carro de Luxo que concorria com o Ford Galaxie e o Chevrolet Opala.  
No início de ano de 1982 nosso amigo me disse que, durante suas andanças pela cidade, tinha visto um carro branco enorme num ferro-velho lá pelas bandas de Apipucos, parecia em bom estado, pelo menos tinha portas, pneus, vidros, etc,  e que poderia servir para uma boa farra; assim lançou a brilhante pergunta:  - que tal comprarmos essa maravilha para o carnaval ?
A questão foi repassada para os amigos mais próximos:  Alexandre, Marcelo e Petrônio, que  toparam na hora, com exceção do Marcelo (aquele mesmo da aventura do fusca bege e as domésticas.....), que se mostrou cético com o projeto quando lembrou que a primeira coisa a fazer nesses casos seria gastar dinheiro para comprar e depois mais alguns trocados para resolver qualquer problema mecânico. Mesmo assim, após pressão, conseguimos seu apoio formal à tresloucada empreitada. 
Nosso amigo Aníbal (um dos personagens principais dos contos do Pina....) e já morando em Salvador nesse início de 1982, e obviamente longe das decisões, não foi consultado e consequentemente não vimos a cor do seu dinheiro; tornou-se assim convidado especial entrando na festa somente a partir do sábado de carnaval.        
Numa bela tarde partimos em direção ao local onde encontrava-se a relíquia. Paramos num ferro-velho suspeito na beira do açude de Apipucos, Casa Forte, descemos e fomos ao encontro do OLNI (objeto de locomoção não identificado) que Carlinhos tinha visualizado como possível fonte (e foi.....) de farra no carnaval. O dono do negócio extremamente  mal-encarado se apresentou como empresário do ramo da metalurgia e automobilismo e rapidamente nos levou ao encontro do OLNI: era um Dodge Dart bem acabadinho, jogado as traças, cor branca, com uma placa ainda decente (MD8524), portas que milagrosamente  abriam (como pudemos comprovar na apresentação...). Apesar de tudo isso o empresário nos garantiu: - o bicho anda e o melhor de tudo tem documento em dia; tirou do bolso uma bolinha de papel amarelado que em segundos transformou-se num documento emitido pelo DETRAN. Abriu a tampa do carro e nos mostrou o motor e em seguida a enorme mala, depois entrou no seu barracão e voltou com uma bateria velha em mãos, colocou no lugar, ajustou, entrou no carro, virou a ignição e o bicho pegou na hora. Surpresa geral !!!!
Após um breve bate-papo com o empresário voltamos para casa decididos a comprar o bagaço de carro. Agora entrava em ação a próxima etapa: convencer o resto da turma nessa arriscada decisão. Eu já trabalhava e era o único que tinha dinheiro em mãos para gastar; Carlinhos teria que recorrer a seu pai, Petrônio idem, Alexandre seria um pouco mais difícil, teríamos que convencê-lo a gastar seus tostões do crédito educativo, que oficialmente seriam destinados aos seus estudos mas na verdade era redirecionado para suas amadas cervejas;  por fim , Ah, esse seria o desafio maior !!!: Marcelo; esse era o avesso da belíssima música de Paulinho da Viola "dinheiro na mão é vendaval, é vendaval, na vida de um sonhador, de um sonhador..."
Depois de intensas discussões fechamos a compra e partimos em direção ao local assombrado onde o carro repousava a espera de algum maluco com dinheiro na mão. Chegamos, pagamos, pegamos o documento e partimos com o possante para o seu novo lar:  o quintal da casa de Marcelo. 
Primeira decisão em conjunto: quem iria dirigir a máquina durante o carnaval ? 
Eu dirigia desde 1978, Marcelo e Aníbal também mas nenhum dos três era especialista no volante. Alexandre era menos experiente ainda; o único carro que possuiu foi um fusca branco que não andava por estar sempre quebrado, em virtude disso passava noites ao relento, aberto as intempéries da natureza, o que levou as plantas a o possuir (alguém lembra do filme trash "os invasores de corpos"??), criando raízes, tomando conta do motor e adjacências e tornando o autoMOVEL em autoIMOVEL. Enfim, os quatro estavam descartados. Sobraram Carlinhos e Petrônio. O primeiro era o motorista precose do grupo. Já em 1978, na fase áurea das nossas farras do Pina, o amigo com 16 anos já dirigia com desenvoltura e segurança, diariamente, da sua casa na tamarineira até o Pina onde encontrava-se o foco dos "embalos de sábado à noite". Seu único problema era a cerveja pois depois da primeira as demais vinham por tabela e só parava quando a situação já era desesperadora, ou seja, quando estava estatalado no chão. Precisávamos analisar essa situação com calma.... A outra opção seria Petrônio que também já era um bom motorista porém como não fazia parte constante do grupo desconhecíamos seu talento ao volante mas sabíamos por terceiros que o cabra era desenvolto e  tinha uma qualidade importante nesses casos: não bebia.
Depois de intensos debates ganhou a primeira opção com ressalvas, ficando Petrônio para um previsível substituto para as noites de cachaças de Carlinhos (que sempre eram as primeiras....). Também descobrimos que ele era bom em mecânica por isso ficou com o cargo de assistente técnico para prováveis problemas com o motor e com o que restava do sistema elétrico da máquina.
Decido o motorista partimos para dar uma concertada no possante: arrumamos bons pneus, foi dado uma geral no motor e o guardamos a sete-chaves no terreno enorme que ficava atrás da casa de Marcelo, que na verdade era o quintal da casa pois tinha uma passagem ligando os dois espaços.
Na primeira semana da nova vida do Dodge surgiram as primeiras sugestões:
 
- vamos pintar o bicho ..?   
- que tal tirar a mala para dar espaço para colocar mais gente dentro ..? - gritou um ente perdido
- mais outro sugeriu, que tal arrancar as portas para dar mais adrenalina espiando o chão passar perto..? - gritou mais um outro sócio....
 
E a ideia mais estapafúrdia de todas. Alguém mencionou (não sei quem...):
- vamos tirar todos os vidros para o carro navegar mais rápido ..?
 
Entre uma cerveja e outra passamos o sábado pintando o carro. Todo tipo de sugestão era aceita, menos palavrão, enfim tudo era festa. Saiu várias pérolas:
 
"Marcelo Tarado"; "Marcelo maníaco sexual"; "Ana Kátia tamborete" (amiga de Marta que navegou no carro); tinha um monte de "CRAU", "CREU", vários "Bebel" (prima de Carlinhos e ativa participante dessa farra), "Gordo Pinica" (mais um amigo que participou do evento,  como convidado), "Loch Ness", "Os Queijudos", "Donzelos", etc, etc.
 
O carro era branco e foi completamente pintado, não faltou pedra sob pedra, ou melhor espaço sob espaço. Colocamos uma caveira bem grande na tampa do motor e nos demais espaços um monte de riscos coloridos e frases desconexas como as citadas anteriormente. O resultado final foi retumbante, o bólido virou um sucesso.  
Em seguida arrancamos a mala e as portas dando assim mais espaço para os prováveis convidados de última hora. O retoque final foi aquela ideia estapafúrdia de eliminar os vidros. Segundo quem sugeriu (identidade desconhecida.....) isso era fundamental para melhorar o equilíbrio do carro nas curva e adquirir maior velocidade nas retas. Os vidros foram retirados e o  que se constatou  na prática foi um desastre completo que terminou tornando-se uma comédia (descreveremos em outra oportunidade esse circo....).
A primeira foto do carro foi tirada ainda quando consertávamos os contatos da bateria (que inexplicavelmente havia falhado....), atividade essa designada para o nosso mecânico de plantão Petrônio. Minha irmã Martinha aproveitou a oportunidade para desfilar no teto tendo como platéia os sócios fundadores, além de alguns familiares que espiavam através dos muros vizinhos (a casa de Carlinhos é vizinha até hoje desse terreno...).
 
 
 

Martinha esquentando as turbinas, Petrônio (camisa azul e short branco) de olho no motor
e Carminha (mãe de Carlinhos) espiando por cima do muro.

   
 
  
Tudo pronto. A máquina estava preparada para seu primeiro desafio: o desfile das "Virgens de Olinda".
   
 
  
  
   

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