segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Diário de viagem: San Francisco e os bondes.


  Estava aguardando na fila - nos EUA também tem fila !! -  a minha vez para subir no famoso bonde, chamado de "Cable Cars", utilizado na adorável cidade de   São Francisco-California.
  Os bondes são mais uma atração turística do que um sistema de transporte eficiente. Existem três linhas, a 59, 60 e 61, que cruzam áreas importantes da cidade, passando pelo centro financeiro da cidade até as imediações do pier na frente da baia. Todas as três linhas cruzam  as várias ladeiras da cidade (utilizadas inúmeras vezes como cenários de filmes de policial - suas famosas peseguições). O valor da passagem é de $ 5,00 (isso em 2009). Seu interior é basico, sem comodidades adicionais, bancos simples, localizados tando na área interna quanto na externa e espaços para acomodações em pé - muita gente fica nessa situação - em resumo, não existe nenhum diferencial para o público pois as viagens não são longas e o visual é tão bonito que dispensa qualquer conforto especial; em virtude das ladeiras e da posição da cidade, assentada no alto da região, sentado ou em pé dá para curtir as  paisagens belíssimas da baia de San Francisco, incluindo a ilha de Alcatraz (hospedagem definitiva do famoso gangster de Al Capone) e da deslumbrante ponte Golden Gate (cenário de muitos filmes de hoolywood)  


Ladeira cruzando o centro comercial




vista de uma das ladeiras com as linhas duplas do bonde 


Baia de San Francisco com a iIlha de Alcatraz ao fundo



  Os bondes começaram a circular em 1892, passando todo esse tempo por várias reformas visando implementar uma maior segurança para os seus usuários. Em 1982 o sistema foi fechado e teve toda a sua estrutura de engenharia reconstruída com o objetivo de atender as especificações de segurança. Em 1984 foi reaberto ao público e após isso, de tempo em tempo, melhorias foram feitas no sentido de implementar mais linhas e novos carros (todos mantendo a estrutura original do século 19).

Estrutura interna de um bonde





Ponto de troca de linha


Momento da troca de sentido da linha




  Um grande charme nesse passeio é a permissão de ficar pendurado nos ferros verticais que ficam na escada usada para subir nos carros; como a velocidade é muito lenta, em torno de 30 Km, não existe grandes problemas nesse sentido. Basta se segurar, apoiar bem os pés e curtir o vento (esse pode ser bem frio nas famosas viradas do clima da cidade, que ocorrem bruscamente durante determinadas épocas do verão - cuidado : surgiu neblina na ponte Golden Gate - mesmo com o sol brilhando - vem frio de lascar")            
A neblina tinha chegado a bastante tempo na Golden Gate, ou seja, o frio já circulava pela cidade - apesar do sol e o ceu aberto sem nuvens. Turista desatento não me previni, estando de bermuda e camisa de manga curta, sem qualquer casaco. Mesmo assim encarei uma pequena fila e aguardei o bonde, o qual chegou por volta das 17:30hs.
Observei que existiam dois funcionários responsáveis pela  gestão do carro, reversando nas atividades de maquinista, cobrador, organizador de lugares, trocador de linhas, etc, etc. Um negro enorme, estilo NBA, mal parou o bonde e já começou a berrar, "lets go, lets go, lets go", e a galera foi entrando rapidamente. Percebi que em poucos minutos não tinha mais vaga nos bancos, tanto na parte de dentro quanto na parte de fora (laterais abertas), bem como na área liberada para ficar em pé. Pensei, "tô lascado - vou continuar na fila esperando o próximo...". 
Observei que alguns, acredito que os nativos da cidade, se dirigiam ao bonde e prontamente se penduravam no degrau de subida e se apoiavam no cabo de ferro vertical fixo na base de entrada do veiculo. Então saquei, a "vaga" era "pendurado", era isso, tinha vaga sim, mas pendurado estilo "planeta dos macacos";  rapidamente me acomodei num dos ferros que estava sobrando ; outros turistas que estavam na fila também correram e pegarem seus lugares e em segundos o carro estava abarrotados de símios pendurados nos seus galhos. O bonde partiu, todo se rangendo, em direção à área financeira da cidade, bem próximo ao chinatown, onde me hospedava.
Durante o trajeto observei que o cobrador ia de banco em banco, de pessoa-em-pessoa, para receber a passagem. Fiquei esperando a  minha vez de pagar.




No centro o condutor dirigindo o carro (área externa)



Vista da galera pendurada


  A viagem realmente foi muito interessante,  a vista belíssima, o único problema era o vento frio que impiedoso, cortava todas as áreas ocupadas do bonde, principalmente nos locais onde os macacos balançavam-se: ali sim, o frio era intenso. Os nativos estavam tranquilos, rostos límpidos, brancos, sem a mínima expressão de desconforto, porém o nordestino - Ah, esse nordestino ! - sofria com o vento do pacífico ; rosto vermelho, orelhas geladas, o  vento frio de "lascar o cano" entrando por todos os poros.
 Ainda esperava a vez de pagar, estava preocupado como pegar no bolso meus $5 dólares já que a situação de "pendurado" não permitia. Deixei para lá e esperei o fim do trajeto para fechar a conta. 
  No ponto final o NBA começou com seus gritos, agora com um sonoro: "get out, get ou, get out, please" . Como estava exatamente na saída fui literalmente empurrado pela turba e quando me dei conta estava em pé na rua e ao mesmo tempo mais um monte de gente começava a subir, seguindo as instruções do americano que não tinha  a mínima intensão de perder tempo - "time is money". Quando me dei conta que o maquinista ia continuar seu trajeto me mexi para sinalizar que faltava pagar a a viagem. Ja era tarde !!,  o bonde partiu e o cobrador ficou sem ver meus dólares. Os americanos que tanto cobram, respiram dinheiro, deixaram de receber $5 de um pernambucano desatento ou, alguns poderiam sugerir, esperto .....
No outro dia, peguei novamente o bonde, no sentido contrário, indo para o pier, e aí paguei como um bom turista, o valor devido.



(Setembro/2010)










    

    


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