quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Histórias do Pina - A Lenda do Loch Ness pinense.


  

Precisávamos documentar o início de tudo, de onde veio, o porquê, o Big Bang de toda uma história que até hoje nos fascina. Nada foi ao acaso, estava tudo preparado, escrito nas estrelas, adormecido na mente criativa de um amigo. Foi necessário um estímulo (a cerveja) pra surgir  a lenda tropical do original escocês: o monstro do Lago Ness (Loch Ness).
Sua lenda recifense nasceu bem ali, nos confins do Pina, num bar, o Telhado Azul, em 1978, e foi o nosso amigo Ajax o criador da criatura, o pai do Frankstein. 

Cabe a nós aqui e agora apenas documentar o que já sabíamos ....             



Foto enviada por Ajax

 
A torre do Castelo de Urquhart, com o Lago Ness ao fundo.

  
  A localização do bar era excepcional:  ficava na avenida, já no Pina, e tinha seu público fidelizado, pouco, mas bem selecionado. Foi descoberto por mim ou pelo Gordo Araken, ou por ambos. São tantos anos, não lembro bem. 

Costumávamos ir lá nos sábados à tarde. Não tinha placa, aviso, ou qualquer propaganda que dissesse que ali existia o Edis Bar. . Seu proprietário, o polivalente Edis, fazia de tudo, recebia os  clientes, oferecia o cardápio, trazia os pedidos, e ainda arrumava tempo pra bater um papo, contar piadas, etc. Era muito educado e simpático, sempre nos recebia com muita alegria. Nosso pedido nunca era especial, não existia dinheiro pra luxo, por isso invariavelmente passávamos o tempo no pratinho de batatas fritas e filezinho ao molho Inglês. O bate-papo era muito divertido O gordo a contar suas mentiras, eu fingindo acreditar e a usufruir das benesses do amigo que pagava integralmente a conta.

Alguns meses depois foi repassado o ponto e mudou-se o nome pra Telhado Azul. Nesse tempo o gordo tinha desaparecido inexplicavelmente mas o grupo de amigos tinha aumentado. Agora eu Carlinhos, Alexandre, Aníbal e algumas vezes Ajax eram os novos bebedores. íamos lá depois do futebol na praia e a noite quando não existia programa melhor a fazer. Ultrapassávamos a madrugada nos papos mais desconexos do momento. 

Nessa noite Ajax estava lá. Pelo menos duas vezes por ano, enquanto namorava com Andréa, nosso amigo pegava o voo e passava suas férias da faculdade aqui, bem no Pina, na rua Ondina,  de corpo e alma, e de coração também.   

Alexandre empolgado contava piadas de papagaio, de português, de negros, de mulheres e seus maridos traídos, de gagos, etc. Varria toda a trilogia do Pasquim, os anedotários mais baixos das esquinas e sarjetas de Garanhuns, dos becos do Pina, e do mundo em geral.      
Com muita risada na mesa era assim q a noite ia passando. 

O bar era muito simples, tinha apenas uma área na frente (que provavelmente deveria ter sido um jardim) de cimento batido, onde se servia os clientes. A parte interna, uma pequena casa com uma porta e duas janelas, uma de cada lado, tinha poucas mesas pra quem quisesse se recolher da brisa da mar que soprava forte à noite dependendo do mês, ou da chuva de julho. Dessas mesas víamos a cozinha e o "staff" que ali se reunia pra nos servir.

Só bebíamos cerveja. Raramento tomávamos vodka, rum. ou Whisly.  Esses só consumíamos nas boates e ,mesmo assim os piores, os mais baratos, e por motivos óbvios.         
De repente Ajax pediu atenção e disse que tinha uma piada pra contar. Foi uma surpresa na mesa, jamais imaginaríamos que o colega vindo do outro lado do mundo, dos cartesianos, dos exatos, criado na disciplina, tão longe do barulhento e criativo mundo dos latinos, herdeiros da desordem e do calor brutal, teria algo engraçado pra dizer. 

Ajax tinha se transformado (vide foto  seguir), possuía um semblante risonho, beirando o cínico. A bebida fazia sua transformação, liberava sua alma, abria sua mente, e o estudante de engenharia transformava-se num autentico nordestino recifense pernambucano contador de anedotas.    


                           Ajax flagrado no momento que preparava-se para contar a famosa anedota.




 Nosso amigo começou o relato que ficaria pra história, marcaria uma geração, e criaria um mito. :

"Um belo dia um pai pediu ao seu filho gaguinho  que fosse na esquina comprar um jornal. O inocente menino saiu todo animado com dinheiro na mão,  em direção a banca de revista. Ao chegar na banca tomou coragem, rezou, suspirou, se esforçou como nunca na vida e disse:

- bo bo bom di di dia ! ê ê ê eu quequequero comcomprar um um jornananal.

A criatura inocente não imaginava a reação terrível do jornaleiro; ao invés de dar o jornal e receber os trocadinhos do menininho dobrou três jornais velhos, deixou parecido um rolo de passar pastel e lascou na cara do jovenzinho três bofetadas de papel, além de dar um chute no seu trazeiro. O bichinho saiu desembestado para casa chorando um choro de menino gago uauauauaua

Chegou em casa aos prantos, com o rosto inchado e com escoriações, e o pai revoltado com a atitude do jornaleiro mas querendo de verdade socializar o garoto insistiu: "volte lá meu filhinho e exija o jornal pois você está no seu direito. 

A criaturinha de Deus voltou ao jornaleiro. Ao chegar não teve nem tempo de gaguejar as últimas sílabas do seu objetivo, comprar o jornal,   e já foi levando mais algumas bofetadas de jornal enrolado, e o que é pior, o jornaleiro já tinha preparado um cabo de aço e após a última jornalada tascou umas lamboradas de cabo na costas do menininho, tal como um escravo no pelourinho, e finalmente mandou novamente um chute no traseiro do coitadinho; o berro que o menino deu foi terrível aiaiaiaiaiaiaiaiaiaia. 

saiu se  arrastando, aos prantos,  rua abaixo de volta a sua casa, deixando um rastro de sangue atrás de si..

Chegando em casa, estropiado, esfolado, marcado a ferro e fogo, um verdadeiro resto de gente, pois não conseguia nem ao menos dizer qualquer palavra.

O pai desesperado e temendo pela saúde do filho resolveu ir à banca tomar satisfações com o jornaleiro. Levou o filho no braço, visto que o bichinho de Deus não tinha mais forças de caminhar, e chegou a banca já berrando. 

- Seu POR%$#A por que você bateu no meu filhinhooooo, seu MERD¨%$$A de BOS%$#%$A  !!!!!!!????" e  o jornaleiro de pronto respondeu com muita dificuldade 

- POR POR POR QUE QUE QUE E E E ELE TA TA TA TAVA TITITITIRANRANRAN DODODO ONDADADADA CO CO CO MI MI MI GOGOGO......."

Foi uma comoção na mesa, risadagens pelos quatro cantos do bar. 

A anedota sadomasoquista inspirou sua criatividade e após isso, sem maiores explicações disse:: 

- Eu soube que vocês tem um colega de praia que tem um sobrinho horrível, as orelhas tipo Dumbo, é completamente vesgo e os braços são maiores que o normal, quase arrastando pelo chão. Seria "O Monstro do Loch Ness" !!!!?? , e largou uma risada medonha.  

Ele estava falando do sobrinho do nosso colega de praia Roberval ; sua irmã a linda e maravilhosa Sandra (exceção da família Adams), uma ovelha branca de uma família horrível, tinha gerado um filhinho bem feiinho exatamente com o DNA dos demais parentes.

A gritaria continuou, algazarra total que chamava atenção de todos, os poucos clientes viravam pra ver o que estava ocorrendo. 

A partir desse dia, como toda lenda, inclusive a própria do Loch original escocês, a nossa tomou forma e corpo, cresceu, foi distorcida, passada boca-a-boca tipo telefone-sem-fio, mês-a-mês, ano-a-ano, e ainda hoje desperta curiosidade em quem pela primeira vez houve os rumores de um bichinho nascido nos confins do Pina, num obscuro bar frequentado por desocupados estudantes. 

O autor da lenda ainda reafirma, após tanto tempo,  que não tem nada a ver com isso, mas as evidências são inúmeras, as testemunhas várias, e a foto que acima mostramos nos dar indícios concretos que a história não foi inventada, mas criada com muita criatividade por uma mente extremamente lúcida desviada apenas do seu norte por uns litros de cervejas.    

Em 1982 o monstrinho foi homenageado no nosso carnaval em Olinda: pintamos seu nome no carro que compramos e camisas foram criadas e distribuídas em sua homenagem.  

                                               A jovem de camisa azul e sua justa homenagem






  






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