sexta-feira, 18 de maio de 2012

Minhas queridas amigas de trabalho - O barato que saiu caro

  

  Maxmiliano e Camélia, muitos anos atrás, migraram para o sul do país, saindo da caatinga nordestina, após passar num disputadíssimo concurso para trabalhar numa grande multinacional responsável pela comercialização de alpercatas de couro.
  Depois de muitos anos no serrado, trabalhando na próspera casa de vendas de alpercatas, o casal de retirantes decidiu voltar ao nordeste e para isso inscreveram-se em outro concurso público e, como eram bem preparados, passaram novamente sem dificuldades. O novo local de trabalho era numa das cidades mais desenvolvidas do país, localizada no Nordeste mas não no sertão e sim num lindo litoral, com vegetação luxuriante de palmeiras e coqueiros e praias com águas mornas e brisa suave. Sendo a primeira em tudo a cidade esbanjava modernidade. O novo emprego era numa empresa concorrente das alpercatas, responsável pela comercialização de chapeus de couro. 
  Maxmiliano sabia que seria um choque para Camélia, sua cabecinha tinha dado uma guinada de 480º saindo da caatinga para o serrado e agora de volta para uma metrópole nordestina. Ela imaginou que voltando para a região encontraria com facilidade os prazeres da sua juventude, passados no bravio sertão paraibano.
 Chegaram de mala e cuia na cidade grande; ele consciente, ela completamente perdida no espaço e no tempo. Ao chegar, por uma incrível coincidência, a retirante encontrou no seu novo emprego uma colega, Alexcleide; desenvolta, instruída, culta ao extremo, frequentadora assídua da maior livraria da cidade (apenas frequentadora...pois não comprava nada), e reconhecidamente  especilista em lugares baratos e exóticos: ela conhecia casas de massagens indianas, reflexologia caribenha, podologia grega, Aiuvérdica Kama-Sutra, escovinha sudanesa, pintura de cabelo e afins.
  Em relação a comida, Alexcleide esbanjava também excentricidade, ninguém sabe como mas conhecia, nos quatro cantos da cidade, locais com preços acessíveis . A palavra barato fazia parte, mais do que o comum, do seu dicionário. Seu lema de vida era  "é barato e diferente; é comigo". Enfim, essa era a nova amiga de Camélia; 
  Já no primeiro dia de trabalho Camélia foi informada, pela sua nova amiga, da existência de uma casa de depilação barata, novamente a palavra favorita; "barata", e moderna, que utilizava uma nova tecnologia de cera; cera essa fabricada a partir de couro de calango, originado do deserto paraibano. Camélia se informou  de como chegar ao local após uma breve explicação de sua amiga. A marotona teve início na manhã seguinte. A retirante colocou seu protetor solar, sua alpercata, sua calça de couro cor de burro quando foge, e partiu rumo a 8ª maravilha do mundo, depilação sem dor; bem, pelo menos era isso que ela esperava....
  Quando chegou ao local, seguindo instruções de sua amiga, imaginou que não poderia ser onde estava, a casa de depilação não tinha aparência dessa funcionalidade  mas sim de uma casa de rinha de galo. Corajosa, criada no sertão, acostumada aos desafios da vida, topou a parada e subiu os degraus, em forma de caracol, da escada de madeira vencida. Subiu dois andares, atravessou um corredor obscuro e tenebroso, ladeado por quartos onde, de dentro, escutava-se barulhos esquisitos de mulheres gemendo, e chegou ao destino: quarto 33, sotão nº 66; esse era o local.
 Por incrível que pareça ao abrir a porta observou que o local era charmoso, moderno, bonito: totalmente diferente do tinha visto até o momento. Entrou na sala de espera e já gostou de cara; a recepção era chique e a atendente educada e atenciosa. Reparou, inclusive, que algumas pessoas, vestindo farda, estavam falando numa língua que ela não soube precisar exatamente qual era mais desconfiava de alemão mas com um forte sotaque sertanejo. Esperou alguns minutos e foi chamada pela atendente que mostrou o menu, ou melhor, a lista de opções de depilação: escolheu a opção sugerida, é claro, por Alexcleide. Não precisamos dizer que foi a opção mais barata: "depilação sem dor a moda da casa". 
   Depois de um certo tempo de espera Camélia foi chamada a sala de depilação onde uma senhora alta, forte e muito séria a atendeu. A funcionária se apresentou como Sabrina e disse que era natural da Alemanha da cidade de Treblinka (onde instalou-se um dos vários campos de concetração Nazista..), mas devido a 2º guerra mundial tinha se refugiado no Brasil, na cidade de Carrapeteiras, interior da Paraíba. Essa era depiladora que trataria de Camélia.  
  Foi dado início aos trabalhos: a alemã posicionou-se e gritou "wift die horse fühlen" e tradizindo para sertanês disse agora el língua inteligível: "sente-se, arlevante as carças e amostre as canelas". Camélia, sentou-se e obedeceu prontamente. Em segundos a carcereira germânica chegou com uma tijela de barro fumejante com a calda de calango ardendo em brasa. Não deu nem tempo de Camélia sentir medo; a germânica-sertaneja lascou um 1º naco de cera na sua canela, esperou 5 segundos e retirou com a mesma velocidade que colocou ; Camélia gritou: aiai mainha !!! ; não teve nem tempo de chorar pois um segundo naco de cera foi colocado e tirado da mesma forma; dessa vez Camélia deu um berro aiaiaiaia mainhaaaa uiuiuiu meu padim ciçoooo...; a carceireira gritou - "macht unsinn einer fraun" - em sertanês - deixa de patim muié ; para concluir, a torturadora fantasiada de depiladora lascou o terceiro e último pedaço de larva de vulcão; a retirante deu um berro aterrador ::uauauauauauauauauaua mainhaaaaaaaa padim ciçoooooooooo virgi mariaaaaaaaaaa uauauauauauaua;  nesse instante usou suas forças restante para dar uma bofetada no cangote da alemã e sebo nas canelas, desembestou em disparada fugindo do centro de tortura.
  Suas canelas estavam que nem pimenta malagueta.....atravessou o corredor capengando, já nesse momento infestado de clientes, em visita aos quartos suspeitos, desceu as escadas em forma de caracol e pegou o beco pela rua afora, rastejando-se que nem calango acertado com tiro de badoque; chegou em casa aos prantos e tascou suas canelas numa tijela de barro com água fria.....passou a noite em delírio .....
    No outro dia Camélia chegou ao emprego e procurou sua amiga, aquela mesma,  "o docinho de coco em pessoa", Alexcieede que sugeriu a casa de tortura, ou melhor, casa de depilação. Por incrível que pareça sua amiga tinha desaparecido, pedido transferência para "outros ares", com uma ideia fixa em mente: montar uma franquia da casa de depilação  Por outro lado, Camélia, depois de muito trabalho da terapeuta ocupacional da empresa, chamada Niroka, e conhecida pelas suas técnicas bem sucedidas de "êxtase sexual cósmica", conseguiu com muito esforço voltar ao trabalho, mas nunca, jamais, de saia ou similares, sempre de calça-comprida...... 
  

              

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