sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Histórias do Pina - Roberval e a lenda do Loch Ness pinense.



  Estávamos todos reunidos no casarão da avenida Boa Viagem 670, num ensolarado domingo de 1979, comemorando o aniversário da minha avó Emília. A família inteira estava presente e a casa estava um festa só !  

Conversávamos alegremente no corredor da varanda que dava pra lateral esquerda da casa (com vista pro Edifício Oceânia) e era onde circulava a cerveja mais gelada da casa poque era lá que Tio Ciro também estava, junto do primo Júlio e do cunhado Sérgio. Nesse cantinho as piadas divertiam todos e era assim q a manhã ia passando entre gargalhadas e goles.       

Nessa época a lenda da lenda criada por Ajax no bar Telhado Azul já era bastante conhecida entre nós. A história do Loch Ness do Pina já tinha adquirido fama e aonde fossemos era sempre lembrada. 
Pois bem, estávamos nesse bate-papo quando de repente vislumbramos passando pelo calçadão da avenida o nosso colega de praia Roberval - sangue direto da família Adams e consequentemente do monstrinho.
O tio do Loch e família eram conhecidos na região como eternos seres em migração. Quando menos esperávamos eles tinham se mudado. Já haviam passado pelo edifício Oceania, se mandaram pro Caiçara, e logo depois pro Del Mar. Pingaram em todo o Pina e tudo isso num intervalo de 1 ano. Dizem que as dívidas de aluguel eram a causa do rodízio...

Rapidamente diminuiu a marcha e olhou  fixamente para a varanda, percebeu um monte de gente com cerveja na mão e deduziu rapidamente que era uma festa, um porto seguro pra passar o seu tempo que era longo. 
Vimos sua presença indesejável e continuamos o papo. Ele acenou com a mão. Continuamos o papo. Roberval acenou novamente mas ninguém o via, ou não queria ver. Era uma fantasma pra nós, um espectro que perambulava no Umbral. 
Como o portão dos carros da casa ficava eternamente aberto pelo intenso movimento aos domingos (e também por falta de manutenção) o jovem entrou por alí e dirigiu-se sem ser convidado  pra o lado da varanda onde estávamos.  

Roberval foi apresentado para os que não o conhecia. Entrou no circuito das piadas e logo se entrosou com a turma. Encostou-se numa das paredes (levou um choque devido ao precário estado da infraestrutura elétrica..), pegou a primeira cerveja que passou e infiltrou-se onde nunca deveria ter entrado: nas piadas.

O tempo foi passando e de repente Alexandre fez uma pergunta que marcaria todo o resto da festa. 

- Amigo Roberval, se o bichinho feio do Loch fosse seu sobrinho que você faria ? (o bichinho era mesmo seu sobrinho...)

- Eu nunca teria um sobrinho desse... 

As perguntas foram surgindo e cada um fazia a sua:  

- Mas Roberval, vamos assumir que não tem jeito, era seu sobrinho e acabou-se.

- Eu lascava um chute na bunda e mandava aquele POR&% para fora de casa.

Novas gargalhadas estremeceram o ambiente, outras pessoas foram se aproximando do grupo, tios, primos, etc, e o centro da festa tornou-se Roberval. Empolgado com os holofotes, a ribalta aos seus pés, a cortina levantada, Roberval sentia-se o astro e aí empolgou-se. Suas respostas foram ficando mais engraçadas e agora ele já fazia imitações, trejeitos, caretas, transformando seu próprio sobrinho num objeto abaixo da sarjeta.  

-  Amigão Roberval, e se o monstrinho sendo o seu sobrinho legítimo,  cismasse de voltar implorando um lar ...

- Ele que se danasse para lá, se insistisse eu o colocaria amarrado num tronco no quintal, em cima de um pé de urtiga, dava uma leves chicotadas de cipó de couro de boi e o deixaria ao relento para deixar de ser besta.

- E se ele sobrevivesse aos suplicios ?

- Os martírios aumentariam alternando couro de boi com corrente enferrujada....(deu uma gargalhada horripilante que rebaixaria Jack Nicholson, em "O Iluminado", num frei capuchinho).   

Foi uma comoção geral, uns se encostavam na parede elétrica para não cair, outros jogavam-se ao chão; Sérgio já estava acocorado de tanto rir juntamente com Júlio.
Agora Roberval  já estava no meio da roda e fazia gestos teatrais simulando torturas e flagelações ao monstrinho. E o papo continuou: 

- E se ele sobrevivesse a tortura da corrente enferrujada e fosse ajudado por um ente piedoso, saisse do tronco e tentasse seu retorno ao aconchego do lar.

- Ele que vá para PUT& QUE PAR*%. Eu pegava um cabo de aço o acoitava que nem um cão raivoso, o arrastava novamente para o quintal, colocaria uma bola de ferro nos seus pés, passava mel no seu corpo, amarraria a uma arvore e deixaria as formigas roerem seu corpinho até os ossos. Se sobrasse os ossos daria aos cães vira-latas pulguentos... 

Antes de terminar a palavra "pulguentos" o escândalo já estava generalizado no terraço; Algazarra total. Roberval estava orgulhosos e nós saboreávamos sua  tragédia.  

A balburdia era tanta que os meus parentes voltaram-se pra onde estávamos e curiosos foram chegando pra saber o que ocorria. Tio Ciro chegou com sua cerveja e perguntou quem era esse "merdinha" da roda que servia de piada pra os demais.    
Roberval continuou suas estripulias tal qual um Chaplin pinense e só encerrou quando percebeu que as piadas não mais faziam efeito pois Alexandre já comandava outras piadas de outros tempos, de outros bares, da vida.   

Sem mais nem menos Roberval desapareceu, assim como sempre fez no momento de pagar alguma conta, sumiu do terraço, escafedeu-se pelo calcadão e retornou ao aconchego da sua família Adams.

A festa acabou quando a cerveja encerrou-se. Corremos pra o telhado Azul e foi lá que encerramos a tarde-noite.  

   
        

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Diário de viagem: passeando no Central Park - Nova York



 Depois de conhecer a Grand Central Station, decifrar o emaranhado de cores, linhas, letras e números do mapa do metrô, finalmente cheguei a outro local impedível de Nova York, o Central Park. Na verdade foi uma viagem curta, parando apenas em duas estações, mas serviu para conhecer seu funcionamento básico o que me permitu continuar nos demais dias a utilizar esse serviço, que agora não parecia tão assombroso assim.  
Desci na estação 59st, subi as escadaria e cheguei na esquina da dita rua. Olhei para um lado, olhei para outro e nada de Central Park. Peguei o mapa e vi que deveria estar ali na minha frente, mas nada, só prédios, carros, gente. Então fiz o que qualquer um poderia fazer: perguntar a primeira pessoa que encontrasse e tivesse fisionomia de disponível. Foi o que fiz. Perguntei a uma jovem que estava aguardando abrir o sinal, ela riu e apontou exatamente para um enorme paredão de arvores um quarteirão a frente, visível de todos, menos a minha percepção de turista desatento. Segui pela 59st até chegar no cruzamento da tão falada 5ª avenida que corta todo o Central Park no seu lado leste. Agora sim, estava na calçada do famoso parque preparado para navegar na sua imensidão verde.
O Cental Park fica no centro da ilha de Manhattan, tem o comprimento de 4km - sendo limitado ao norte pela 110st e ao sul pela 59st - e largura de 0.8 km - limitado no lado oeste pela 8ª avenida e no leste pela 5ª avenida. O parque foi criado em 1857,  hoje recebe mais de 35 milhões de visitantes e é o maior parque urbano dos EUA.


O Verde do Central Park

Caminhei ao longo da calçada da 5 ª avenida  até chegar na primeira entrada para o interior do parque, exatamente na esquina da 65st ; entrei e aí tive a noção da grandiosidade da área. Comecei minha caminhada de reconhecimento, peguei a primeira trilha e partir em direção a lado oeste do parque. A cada passo mais ia descobrindo imagens belíssimas, para todos os lados vislumbrava árvores frondosas, jardins bem cuidados, gramas impecáveis, lagos naturais e artificiais; enfim, uma paisagem exuberante. Vi muitas pessoas nos gramados, algumas caminhando com crianças, outras lendo, descansando, namorando, ou apenas curtindo o verde maravilhoso; esquilos circulavam tranquilamente dando um charme especial ao ambiente.              


O gramado para relaxar


O passeio dos esquilos

Que tal namorar e curtir a paisagem ?
     
 
Continuei o passeio até chegar mais ou menos no meio do parque onde vislumbrei um enorme lago e uma placa indicando "Memorial Jaqueline Kennedy Onassis". Claro, parei e escanei tudo.
Essa área foi construído em 1862 para receber água de um aqueoduto e depois redistribuir para Manhattan; foi desativado após 131 anos de uso mas  a área permaneceu desenhando o coração do parque e em 1994 seu nome original (Reservatório Central Park) foi substituído a favor da Sra Kennedy,  para homenagear sua contribuição à cidade.

O memorial Jaquie.






   

Engatei a marcha e retornei a caminhada. Depois de alguns minutos no meio do verde (mato de  um lado, mato de outro..) saí da trilha e vislumbrei uma grande pista provavelmente utilizada para automóvel pois era bem larga e muitíssimo bem cuidada; confirmei isso quando vi as placas de sinalização. Percebi então que o parque além das trilhas possuia vias para automóveis, charretes, e cavalos.                         
 
 
Mato de um lado, mato de outro.
 
Via para automóvel.



 

Via para ciclistas.
  
Cruzamento para outras vias.
 
Segui meu passeio escolhendo o caminho com o fluxo maior de pessoas prevendo que poderia chegar em algum lugar de interesse geral. Dito e feito, ou melhor caminhado e feito, depois de algum tempo diminui a marcha, porque os que estavam na minha frente fizeram o mesmo,  e vislumbrei um local belíssimo e aí me lembrei de ter visto já essa paisagem em filmes : uma área aberta com um enorme calçadão de tijolos vermelho e no centro uma fonte muito bonita, edificada dentro de uma pequeno lago tendo ao fundo um outro lago, esse bem maior. Eu tinha chegado no terraço "Bethesda" e sua famosa fonte, a "Bethesda Fountain" , uma das maiores atrações do Central Park. 
Os filmes que tinha visto eram dois: "The Way You Are", 1973, com Robert Redford e Barbra Streisand, e "Autum in New York", 2000, com Richard Gere e Winona Ryder. 
Essa fonte comemora o "Croton Water System" o qual foi o primeiro sistema (aqueduto) a levar água fresca para a cidade de Nova York, em 1842. No seu topo foi edificado em 1873 uma estrutura em bronze chamada de "Anjo das águas", que é o símbolo da pureza das água, de autoria da escultora Emma Stebins. 
O terraço foi uma das primeiras estruturas feitas no Central Park; sua construção começou em 1859, continuou através da Guerra Civil e foi concluída em 1863. O ambiente  é dividida em dois planos: no primeiro andar temos uma vista panorâmica para a fonte e os lagos e na inferior temos a fonte, o calçadão de belíssimos tijolos vermelhos e uma área interna que fica bem abaixo da parte superior formando um túnel com passagem para o lado leste do terraço.
 
   
 
Ao fundo - Bethesda Fountain
 

Bethesda Fountain in Central Park
O anjo das águas

 

 


 
 
Fui até a fonte para tirar algumas fotos, depois retornei, passei pelo calçadão e entrei na área coberta. Sua entrada é formada por vários arcos sustentados por colunas estilo romano, embaixo de um desses vi um casal de noivos que provavelmente prouravam um local para tirar fotos. Dentro, observei novamente mais colunas e arcos desenhando o ambiente, juntamente com um belo piso de cerâmica vermelha, seguindo o padrão do calçadão; o  teto e as paredes tinham lindos azulejos coloridos permeados de granito. Vislumbrei um grupo de músicos negros amadores que fazim uma performance muito bonita, com sua sacolinha disponibilizada estrategicamente convidando o público a contribuir com o espetáculo; fiz a minha parte e deixei uns trocadinhos por lá.  
 
 


o terraço: calçadão, piso superior e inferior.

O interior (ao fundo músicos de rua...)


      
 
 Depois de ter gastos meus trocados contribuindo para a cultura local continuei minha jornada e segui em direção a mais  outro aglomerado de pessoas; lá vamos nós para mais atrações imperdíveeis.
Pela proximidade dos prédios do lado oeste fui percebendo que em breve teria atravessado todo o parque de leste a oeste e estaria na 8ª avenida. Mas antes desse destino, outra surpresa - digo surpresa porque nada do que tinha visto nessa empreitada bucólica havia sido programado - vi de longe um monte de gente parada e tirando foto de uma placa no meio do mato; parecia um memorial ou coisa desse tipo (se fosse no Maranhão seria um memorial para José Sarney....). Me aproximei e surpreso o que vi foi o seguinte:
 
"Strawberry Fields - imagine all the peoples living life in peace - John Lennon"
 
 Abaixo dessa frase tinha um relação com os nomes de vários países (incluisve o Brasil) e logo depois mais outra frase:
 
"The restoration of this part of Central Park as a Garden of Peace, endorse by the above nations, was made possible through the generosity of Yoko Ono Lennon"
 
 
Strawberry Fields
 
Imagine



 
Yoko Ono trabalhou com o arquiteto paisagista Bruce Kelly e o conservatório do Central Park para criar um local de meditação de 2.5 acres, dando o nome desse local de "Strawberry fileds" (um dos mais famosos albuns dos Beatles) e o dedicando a John lennon. Foi inaugurado no dia 08 de Outubro de 1985, quando ele faria 45 anos.  
Mais adiante vislumbrei outro espaço com um monte de gente tirando fotos; dessa vez o objetivo das fotografias era um lindo mozaico em estilo greco-romano, em forma de circulo,  desenhado no chão tendo no centro alguma coisas escrita. Chegando mais perto vi  que estava escrito  a palavra  "Imagine" (era uma referência a famosa música de Lennon..). 
Ah, um memorial a Lennon ! teria que registrar sem falta esse momento: sentei tranquilamente no chão e espalhado no mozaico, e ao lado de "Imagine", pedi para uma das várias turistas ao redor registrar em foto; posteriormente retribuí tirando a dela.   
Eu estava na extremidade oeste do Central Park já ao lado da 8º avenida. Ao olhar para a avenida percebi que tomando todo o quarteirão, entre a 72st e  73st, um prédio imponente dava o ar de sua estranheza, muito antigo e extremamente bem conservado, arquitetura barroca, cor marron e dígno de um filme de suspense; era justamente o objetivo final do meu passeio ao Central  Park: conhecer o Dakota (Tão famoso que atualmente  todos os mapas de New York, distribuídos nos hoteis, registram sua presença).
Lennon morava nesse prédio desde 1973 quando um maluco desregulado o assassinou a tiros na noite de 8 de Dezembro de 1980, encerrando a trajetória, aos 40 anos de idade, de uma das vozes mais atuantes na divulgação da paz no século XX, tendo lançado e liderado na década de 60  um grupo musical que revolucionou a musica e os costumes de toda uma geração de jovens: The Beatles.
Triste ironia do destino esse louco, na tarde desse dia fatídico, já estava de plantão na calçada do prédio o aguardando para que seu ídolo autografasse uma cópia do seu mais novo album, o belíssimo "Double Fantasy";  o louco ganhou seu autógrafo (inclusive esse fato foi registrado em fotografia por um amigo de Lennon..) e aguardou até a noite para calar para sempre a voz do ex-Beatle.
Esse louco continua preso até hoje apesar de inúmeros pedidos, por parte dos seus advogados, solicitando sua liberdade. Se fosse aqui na terrinha já estaria solto, infelizmente.....  
Yoko Ono ainda mora até hoje no prédio. Fui até a calçada de entrada tirei algumas fotos de vários ângulos. 
 
    

O Dakota - entrada principla dando para a 72st
 
 

Na esquinsa com a 72st e a 8ª avenida,
 

 
 

Perdido na frente na porta de entarda (local onde Lennon foi alvejado)
 
O Dakota é um um dos prédios mais antigos de Nova York, foi construído no período de 25 de outubro de 1880 a 27 de Outubro de 1884. Conforme as repetidas histórias o Dakota foi assim nomeado em virtude de que, no tempo da sua construção, o local (oeste de Mahattan) era completamente desabitado sendo considerado tão remoto quanto o território dos indígenas das tribos Dakota.
Sua arquitetura é dígna de um filme de suspense: estilo gótico, destacando-se seus telhados altos em forma de torres triângulares tendo no seu alto pequenas varandas sem sacadas, e  sua fachada com diversas esculturas de gárgulas e figuras afins servindo de ornamentos.
Por causa dessa decoração atípica o Dakota foi cenário para um filme mais estranho ainda, o excelente "O bebê de Rosemary" de Roman Polanski, lançado em 1968.
O prédio foi contruído em formato de quadrado ao redor de um patio central. A entrada em forma de arco foi feito de forma que permitisse a passagens de carruagens puxadas a cavalo, até esse pátio, protegendo assim seus proprietários do mau tempo..  
Na calçada perguntei ao porteiro onde Lennon foi morto e ele me respondeu: "just here"..; por coincidência eu  estava exatamente no local do atentado. Tirei mais uma foto e saí de fininho certo de que Lennon ainda circulava por aí ao lado de Yoko Ono que ainda mora no prédio até hoje....






(Setembro/2010)