terça-feira, 10 de abril de 2012

Crônicas do Pina : Uma noite no Aeroclube



INTRODUCAO

  Nos agitados e ensolados domingos de verão no final dos anos 70, era costume nosso, após o encontro na praia, dar uma esticada na casa da amiga Helena, onde lá nos aguardava uma geladeira cheia de cervejas. Seu pai adorava nossa presença, nosso papo, nossas brincadeiras. Éramos o sucesso da casa, os deuses do Olimpo.O convite já estava implícito, bastava encontrar com Helena na praia, essa era a senha, esse era nosso destino, e junto com ela partíamos em direção a rua Tomé Gibson, sua residência.. 
Por volta das 09.00 hrs ou até mesmo um pouco antes, chegava Carlinhos precocemente dirigindo o Corcel do seu pai (Seu Fernando). Ainda não tinha chegado aos 18 e já rodava pra lá e pra cá sem carteira de motorista, cabelo ao vendo, responsabilidade zero, irresponsabilidade 1000. Também de Corcel mas vindo no sentido contrário, do terminal de Boa Viagem, dava as caras mais um, o caro amigo Aníbal. E vindo de camelo, expresso canelinha, pois morava bem ao lado, na rua Ondina, aparecia Alexandre Patinhas. 
Os carros chegavam sem aviso e já iam entrando portão adentro, se autoconvidando. Não existia portão, ou o melhor, o que existia, não abria e nem fechava, ficava escancarado, sorrindo como uma boca enorme, a espera da multidão (entre parentes e amigos) que se aglomeravam na casa principalmente aos domingos. 
A praia do Pina do anos 70 eram bem diferentes de hoje. Os vendedores de cervejas não tinham sombrinhas padronizadas oferecidas aos clientes pra os proteger do sol. Se quiséssemos teríamos que levar.as nossas junto as cadeiras. A moda era sentar numa esteira de palha que levávamos debaixo do braço ou uma toalha. Protetor solar não existia e o chique era ficar de cara pra cima pegando sol, bronzeando-se com os líquidos oleosos que os ambulantes vendiam e que chamávamos de gasolina de avião. Também se usava parafina no cabelo pra deixar bem claro, tal qual os surfistas. Ainda não havia chegado a moda do biquini asa-delta. Todos eram curtos mas ainda bem comportados.          

Praia de Boa Viagem nos anos 70


 O JOGO

O domingo que gostaríamos de relatar começou num simples jogo de futebol. Tínhamos a bola e assim éramos do dono do pedaço, tínhamos o poder de vida e morte, decidíamos quem jogaria conosco, quais seriam os oponentes, quanto tempo teria o jogo, o lado que ficaríamos do campo e o tamanho da barra (normalmente dois cocos secos). 
Nosso time era muito reduzido (apenas nós quatro)  por isso chamamos mais dois maloqueiros da redondeza, provenientes provavelmente das favelas do Encanta Moça, Bode ou Brasília teimosa e montamos pelo menos um time de futebol de salão. Os adversários foram escolhidos aleatoriamente originados também das ditas favelas. Não eram marginais, ladões, mas apenas pessoas humildes que moravam em locais simples, não estudavam e nem trabalhavam, tinham 24 horas por dia pra fazer nada e circulavam aleatoriamente pela praia em busca de um emprego de jogador de futebol temporário.
Montado o time, efetivamos nossa estratégia: Alexandre que era o maior e mais forte (apesar de não jogar nada)  ficou entre os dois cocos seco guardando o gol, e daí pra frente era cada um por si e Deus por todos. Eu corria prum lado, Carlinhos pro outro, Aníbal rodava que nem um pião, e os dois maloqueiros eram os únicos que tinham uma "manha", traquejo de jogador. Na verdade Carlinhos tinha bastante experiência no futebol, já jogava no juvenil do Sport, era um bom jogador mas foi rejeitado em vários testes de seleção devido a sua rebeldia. Não treinava e quando assim o fazia era depois de uma noitada de farra de cerveja o que invariavelmente o deixava inerte em campo.    

A partida foi duríssima. O tempo passava e nada de gol. O sol causticante surrava nossos corpos, do pé a cabeça estávamos torrados, vermelhos, moídos pelo sol e pelo sal. Mas éramos jovens e aguentávamos firmes. 
Passando das duas horas de jogo, continuávamos resistíamos bravamente as investidas dos maloqueiros dos becos do Pina. Eles atacavam, nós defendíamos com rasteiras, empurrões, chutões pra cima e tudo mais. Não existia mas técnica, era ataque contra defesa. Alexandre tomava todo o espaço entre os cocos secos. Era um bloco de cimento es tacionado e assim íamos sobrevivendo hgeroicamente,   

  Essa partida, diferente das demais jogadas na praia, foi duríssima. O embate começou por volta das 10.00hr da manha. O tempo passava e nada de gol; ataque para lá, defesa para cá, e assim se estendeu  o jogo durante quase 3 horas. Alexandre praticamente dentro do gol, ou melhor, no meio do espaço separado pelas dois cocos secos, defendendo heroicamente seu espaço e as constantes investidas da equipe adversária . As 13.00hr o sol estava a todo vapor e o calorão refletido na areia molhada lavava nossos rostos sem piedade.
Nesse momento um dos nossos adversários preparou-se para um lançamento a partir da sua defesa - olhou, calculou e mandou bala - a bola fez uma curva longa, descrevendo uma parábola e desceu na área de atuação do nosso grande defensor Alexandre, área onde ele era o rei, mandava e desmandava; devido ao calor, cansaço ou não sabemos ainda o motivo até hoje, ele saltou para cabecear a bola mas cometeu um erro de sincronismo saltando antes do tempo, quando ele descia a bola estava descendo também - então a casa caiu - sim foi um desastre dos grandes - a bola pegou de raspão na parte de trás da sua cabeça e, quadradinha, rolou no chão atrás dele em direção a linha que cruza o espaço separado pelos dois cocos super-secos.
Não acreditamos no que vimos - Alexandre fez um gol contra de ré e de cabeça depois de segurarmos na defesa, por mais de 3 horas, o ataque avassalador do time de maloqueiros, num sol escaldante. Caímos no chão esgotados e desanimados sem forças até mesmo para maiores retaliações contra nosso companheiro de equipe e ex-heroico guardador do espaço separado pelos dois cocos secos..
 Para relaxar e esquecer a tragédia futebolística surgiu a ideia que não era tão original assim: "vamos à casa da nossa grande amiga Helena curtir umas boas cervejas geladas" ; partimos então com destino à casa da cerveja gelada, onde nos fazia também companhia no bate-papo durante toda a tarde, na maioria da vezes, sua irmã Ana Carolina e seu pai o qual chamávamos carinhosamente de tio Vellozo.





O AEROCLUBE

  Na noite anterior ao jogo de futebol maldito e da cervejada na casa de Helena, curtimos um programa único, digo único porque foi único mesmo; bastou apenas uma vez para mais nunca repetirmos a  dose.
  Sempre existia um programa para as noites de sábado; a criatividade nos fazia descobrir alguma atividade interessante; o dinheiro era curto mas existia algumas opções originais dependendo da época; Nessa noite específica estávamos sem um programa definido e então surgiu a voz do grande Alexandre, aquele mesmo que faria um gol contra de cabeça na manha seguinte,, sugerindo de bate-pronto uma grande e econômica ideia: "Que tal irmos para "Os embalos de sábado a noite no Aeroclube ?"; "lá tem meninas de primeira". Como estávamos sem um tostão no bolso saiu a pergunta básica: "é de graça ou temos que pagar ingresso ?". Nosso grande atleta já tinha a resposta na ponta da língua: "não tem problema, podemos entrar sem pagar, conheço um amigo influente lá que poderá nos liberar a entrada". “Grande idéia”, concordamos em conjunto, imaginando que esse amigo influente fosse o Presidente do Aeroclube ou alguém com uma patente semelhante.

  Partimos então para os "embalos de sábado a noite". Carro para ir era uma dificuldade; quando surgia um era uma felicidade completa. Naquela época os carros não tinham arcondicionados e o som com fita cassete era uma raridade. Enfim o objeto de locomoção que um dos membros do grupo tinha nesse dia dava apenas para quebrar o galho e chegar sem problemas ao Aeroclube, o qual localizava-se na continuação da rua Tomé Gibson, bem perto de onde morava nossa amiga Helena.


                               Aeroclube.


  Ao chegar no local planejado de longe já podíamos ver que na verdade aquilo ali não era os "embalos de sábado a noite" mas sim, sem nenhuma discriminação, o "O Encontro das Domésticas no Sábado à Noite". Nossa primeira ideia foi desistir do programa mas Alexandre insistiu justificando: "de graça até injeção na testa", "quem tá na chuva é para se molhar" e outros ditados básicos. Depois de muitos protestos, cedemos e resolvemos conferir quanta influência nosso amigo tinha dentro desse clube. Estacionamos o carro na frente do clube descemos e nos dirigimos à portaria onde deveria estar o amigo influente. Ao chegar na portaria Alexandre não chamou ninguém, pelo menos era isso que imaginaríamos que iria fazer, nem o Presidente do clube, nem o Diretor ou qualquer representante desse nivel. Mas sim, ele assoviu e fez um sinal para o seu amigo influente, que constatamos com pesar ser o porteiro do clube. Chocados, decepcionados, já íamos dando meia volta, quando o porteiro se empertigou, adotou posição de sentido, assim como um oficial e nos liberou a entrada. Alexandre agradeceu com um aperto de mão formal e sem alternativa entramos e partimos para o reconhecimento do ambiente. 
Atravessamos a portaria de carro e estacionamos no único local que parecia ser um estacionamento mas no momento estava sendo utilizado para área de namoro e encontros passageiros. Descemos e partimos céleres para o reconhecimento do habitat que, a primeira vista, não parecia nada hospitaleiro.

   Entre uma cerveja e outra, a noite começou animada e sem maiores atropelos. A música era ao vivo. Notamos de cara que o conjunto musical, contratado pelo clube, não era tão bom como afirmava o porteiro - breve comentário feito ao atravessarmos a portaria - Foi um choque cultural: primeiro ouvimos musicas de Lindomar Castilho, depois o conjunto empolgado mandou brasa com Waldique Soriano, Paulo Sérgio, Wanderlei Cardoso, Jerry Adriane, Márcio Greik, Odair José, Sidney Magal, Fernando Mendes, Reginaldo Rossi  e afins, e finalmente atacou com versões inaudíveis de Staying Alive e Night Fever, sucessos do momento dos Bee Gees. Na área de danças "as meninas" se soltaram a dançar freneticamente no salão, desgovernadas e em êxtase, numa verdadeira manifestação tribal. Chocados, acostumados a boates de 1º nível, não arriscamos de maneira nenhuma a entrar no salão e partimos para a alternativa de beber no balcão do bar que ficava bem ao lado do palco ocupado pelos alienígenas musicais. 
   A partir desse momento é importante descrever com detalhes os acontecimentos que se seguiram, pois a noite ficaria marcada com um evento singular:  visando preservar sua identidade não revelaremos o nome mas um dos integrantes do grupo envolveu-se num breve flerte com uma das garotas da manifestação tribal..

  O John Travolta do grupo costumava abordar as meninas de uma forma repentina e sem medir as consequências futuras  - fato semelhante já tinha acontecido meses atrás numa boate chamada Malibu e que teve desfecho tão trágico que merece ser contato com mais detalhes em outra oportunidade. Ele era um verdadeiro caçador, insistente, teimoso e não tolerava uma noite sem um breve flerte; era uma questão de honra, pagou para sair pelo menos um namorico de nada tinha que rolar; um beijinho de leve, um passeio de mãos-dadas da patins num parque, ou qualquer coisa semelhante. Não deu outra: como sempre ele já tinha marcado seu alvo enquanto bebíamos e observávamos as dançantes na pista ; sua  triagem foi rápida e eficiente.
   A jovem saiu do salão para ir ao banheiro, que por coincidência ficava ao lado do bar, entrou e ficou pelo menos 10 minutos no recinto. Nosso heroi, assim como um puma a espreita da caça, aproximou-se sorrateiramente  do banheiro feminino e aguardou o melhor momento do ataque: a abordagem foi tão rápida e precisa que desconcertou a garota, tanto que ela se sentiu atraída por ele. Teve início quando a jovem se penteava naquilo que poderíamos chamar de banheiro. Através de uma brecha do basculante nosso heroi berrou e disse para o objeto alvo : "Quer dançar comigo ?";  a jovem espantou-se pelo assédio ainda dentro do banheiro - se fosse hoje seria assédio sexual - mas resistiu dizendo "Pelra aí q tô lalvando as mão" (pela resposta observamos que a menina não seria uma presa tão difícil assim...) ; mesmo assim, nosso amigo continuou insistindo. Após mais alguns minutos a  pretendida saiu do banheiro e o Casanova a seguiu repetindo o convite tresloucado "Quer dançar comigo ?" ; a doméstica, a essa altura já tínhamos percebido sua profissão, atravessou o salão do clube sempre resistindo as investidas verbais do caçador até que, seduzida pelos encantos do namorador aloprado, disse que não queria dançar mas aceitaria o convite para conversar dentro do carro, que segundo seu alucinado proprietário afirmava era um carro muito bacana, tinha som, ar-condicionado, cadeira reclinável e frigo-bar; palco perfeito para abater uma presa inocente....
 
   No carro (a doméstica percebeu “de cara” que o carro não era lá grande coisa como tinha alardeado nosso amigo) o Dom Juan de Marco tentou iniciar uma conversa mas percebeu que seria difícil de engrenar qualquer papo pois a jovem não tinha grandes conhecimentos do que se passava pelo mundo (nem ao menos sabia que o grande Papa João Paulo II,  passaria em breve pela cidade do Recife, numa visita oficial);  sendo assim ele partiu logo para os “contatos imediatos do terceiro grau” mas a jovem não cedeu, a princípio, e foi necessário muita cerveja e papo-furado para conseguir ficar de mãos dadas - ele tinha a mania de sentir antes dos “contatos imediatos” o grau de maciez das mãos de suas vítimas - e um beijinho de leve na sua boquinha, cheirando a cuento, cuminho e cebolinho. O objetivo era bem maior do que um beijinho mas no momento foi o máximo que atingiu pois a doméstica insistiu afirmando que "era virgem" e "mais do que isso só se fosse na casa dela e a pedisse em namoro na frente dos pais" . Depois desse desafio o namorador prometeu que estaria na sua residência no dia seguinte atendendo assim suas exigências mínimas; sem ter mais o que fazer e principalmente, nem o que conversar, o encontro se encerrou apenas nessas preliminares e a jovem saiu do carro certa que no dia seguinte estaria  namorando com  nosso amigo, que aparentemente, para ela, parecia ter um futuro promissor, quem sabe um analista de sistemas, ou um funcionário do Banco do Brasil ou até mesmo um advogado respeitado pela sociedade.
O caçador não apareceu na casa da menina conforme o prometido e até hoje a jovem relembra, com romantismo e emoção, o encontro que para ela seria sua independência financeira e realização matrimonial ....

  Não tendo mais o que fazer e pensando em encerrar a noite em grande estilo, decidimos pegar o beco e partir rapidamente para um fim-de-cerveja noutros ares.
Escolhemos como destino final o bar fim-de-festa chamado "O Veleiro" , reduto das senhoras solteiras e desimpedidas, que apesar dessa frequência não animadora, para nós jovens na faixa dos vinte anos, tinha cerveja gelada e barata, pratinho de batatinha-frita e direito a brisa da praia de Boa Viagem ... 

  

A CASA DE TIO VELLOZO

  Tio Vellozo, o pai de Helena, era um comerciante do ramo de roupas; tinha um senso de humor refinado e inteligente, adorava nossa companhia e deixava sempre sua geladeira repleta de cervejas, preparada para o nosso encontro de domingo. Sua casa ficava na rua Tomé Gibson, nº 405, próxima ao Aeroclube Recife. 

Casa de Tio Vellozo (parede amarela ao lado do poste) em 2012– em 1978 o muro era baixo.


Helena adorava nossa visita e assim como o seu pai, nos recebia muito bem. Nossa amizade iniciou-se na UFPE, em 1978, onde estudavamo juntamente com Alexandre. Anibal e e Carlinhos foram apresentados a ela posteriormente.
Encerrado o jogo de futebol maldido, cruzamos a avenida Boa Viagem nos arrastando, esgotados fisicamente e mentalmente, após a sofrível derrota, continuamos pela Avenida Conselheiro Aguia, atravessamos a Av.Domingos Ferreira e seguimos em direção a rua Tomé Gibson onde localizava-se a casa do "Tio Vellozo da Cerveja"; as atividades etílicas tiveram início imediatamente à nossa chegada; Além de Helena e seu pai, nos faziam também companhia, no bate-papo animado, sua irmã mais velha, Ana Carolina; seus irmãos mais novos José Guilherme, Paulo e Cláudia, apenas observavam o movimento intenso das cervejas saindo da geladeira e não se arriscavam a participar da reunião pois eram apenas crianças. O papo rolou solto durante um bom tempo; a medida que as latinhas de cerveja eram esvaziadas utilizávamos nossa criatividade para construir uma pirâmide de cervejas vazias que por incrível que pareça subia firme e forte independente do teor alcólico de cada um que contribuia com a sua lata.

   Nesse dia específico fomos convidados para almoçar junto com a família Vellozo. Então depois da pirâmide atingir a altura máxima permitida, valor esse correspondente ao grau de lucidez dos componentes do grupo, encerramos o papo no terraço (era sempre o lugar do encontro) e partimos para a sala de almoço. A comida estava muito boa e a bebida para acompanhar ainda era cerveja bem gelada. No início do almoço, aconteceu a cena constrangedora que citamos no ínício; quando estávamos numa divertida  conversa surgiu da cozinha a empregada doméstica pronta para servir o almoço; imediatamente ela parou, arregalou os olhos, passou uma vista pela mesa e prontamente disse se dirigindo ao grupo porém olhando de relançe para o alvo do seu comentário: "eu vi um de vocês namorando com uma das minhas amigas, no Aeroclube, ontem à noite". A doméstica insistiu com sua afirmação, agora já olhando direto e firme para o Dom Juan de Marco do Pina. Percebemos que ela estava falando a verdade e provavelmente o tinha visto, na noite anterior, bebendo ao lado do salão de dança ou pior ainda no carro durante a tentativa de contatos imediatos de terceiro grau; Helena deu um sorrisso sem graça pois notou a veracidade da afirmação da jovem, sua mãe, não acostumada a essas aberrações noturnas, ficou estatalada, lívida e sem ação, idem seus irmãos e irmãs que muito novinhos não entendiam o que estava acontecendo ; o clima ficou pior quando e empregada afirmou com muita segurança que sabia que ele tinha dado um beijinho na sua amiga e depois não queria assumir o compromisso indo a sua casa e declarando-se como namorado oficial aos seus pais. Tio Vellozo, percebendo que a situação sairia do controle, experiente nos seus sessenta e poucos anos, observou que estávamos envolvidos até o último suor de cerveja na noitada do Aeroclube, resolveu intervir e disse que deveria ser um engano pois não tínhamos o costume de frenquentar esse clube. Salvo pelo Gongo ou por Tio Vellozo, a conversa esfriou mas percebemos que a domestica não tinha se convencido da desculpa do dono da casa porém como quem mandava era ele não teve mas como continuar a discussão e retornou à cozinha acabrunhada mas com certeza disposta no futuro a desmascarar o romântico namorador. O almoço continuou meio sem graça e com muito contrangimento, todavia, não perdemos a oportunidade de nos deliciarmos com os saborosos pratos oferecidos com tanto carinho pela família Vellozo. Encerramos o almoço, tomamos mais algumas cervejas no terraço e nos despedimos do pessoal.

 Ao saímos da casa de Tio Vellozo mais uma vez um dos integrantes do grupo teve uma ideia brilhante: sem nenhuma opção para a noite enluarada que chegava radiante foi sugerido nos deslocarmos até a avenida Boa Viagem e encerrarmos a noite no famoso e inesquecível bar chamado Telhado Azul que tempos depois se chamaria Edis Bar e que seria palco da famosa competição de cerveja onde quem sairia vencedor por aclamação seria nosso herói do gol contra e amigo influente do porteiro do AeroClube.

Depois desse evento jamais aceitaríamos qualquer convite de almoço ou qualquer situação onde tivessemos o risco de ser servido pela empregada da casa. Alguns anos depois, em 1983, abrimos uma exceção e fomos à festa de casamento da nossa querida amiga, onde ocorreu uma excelente recepção na sua casa regada a champanhe e vinhos finos, o autor que vos fala ainda se preocupava com a presença invisível da empregada delatora.     



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